Pessoal, vou
compartilhar com vocês uma cartilha muito interessante que andei lendo, que
sintetizasse a sabedoria prática do mundo dos negócios, publicada pela EXAME,
que consultou 20 dos mais importantes e bem-sucedidos executivos,
empreendedores e empresários brasileiros.
Somadas, as empresas
que comandam ou controlam como acionistas geram receitas de mais de 75 bilhões
de reais por ano. Perguntaram a esses personagens qual era a sua regra de ouro,
o principal mandamento sobre o qual eles norteiam o dia-a-dia de suas empresas.
São princípios dos quais não abrem mão. Apresentados nas páginas seguintes, os
depoimentos de cada um deles contribuem para formar um precioso conjunto de
princípios - fundados, sobretudo no bom senso e valiosos para o sucesso no
mundo dos negócios.
David Feffer - 48 anos, presidente da Suzano Holding "Nunca
se desespere por causa de um dia ruim -- e nunca tome decisões embalado por um
dia bom"
Esse é um dos melhores conselhos
que recebi. Foi meu pai quem me deu e sempre é muito valioso tanto em momentos
de desespero quanto nos de euforia. É comum que o ânimo caia quando os
resultados vão mal e também é comum que, com a melhor das intenções, você tenha
um impulso irresistível para aproveitar uma grande oportunidade de negócio.
Todo dia chega ao fim -- para o bem e para o mal. Se está tudo dando errado,
calma. Amanhã pode ser diferente. Se tiver tranqüilidade, você dorme e levanta
com nova energia para resolver as coisas. Em momentos de euforia, você pode
tomar uma decisão apressadamente e cair no abismo. Em vez disso, pense
cuidadosamente. Com exceção de casos excepcionais, jamais tome uma decisão sob
ansiedade.
Jorge Paulo Lemann - 66 anos, acionista da INBEV e da Lojas
Americanas
"Tenha
sempre em vista o seu sucessor"
Buscar a perenização de um
negócio é a coisa mais importante que qualquer empresário pode e deve fazer.
Para isso, é fundamental que a sucessão dos líderes seja uma preocupação
constante. Uma maneira de encaminhar a sucessão é identificar quais
profissionais, dentre os principais talentos da empresa, podem se transformar
em sócios. É fundamental que eles gostem da empresa, sintam prazer de trabalhar
nela e queiram fazê-la crescer. Um processo bem realizado de seleção de
talentos garante continuidade à empresa e a manutenção dos seus princípios e da
sua cultura.
Luiz Seabra - 63 anos, sócio-fundador da Natura "Acredite
em sua intuição -- mesmo contra argumentos racionais"
A Natura não existiria hoje sem
essa premissa. No início, toda análise puramente racional indicava que o melhor
a fazer seria jogar tudo para o alto e voltar a procurar emprego numa
multinacional. Demoramos anos para ter resultados. Mas eu nutria uma convicção
de que ia dar certo, totalmente baseada em intuição e na percepção que tinha ao
atender diretamente as clientes no balcão. Muitas vezes, não sabia se ia dar
para pagar a conta de luz no fim do mês. Mas eu era obstinado, estava
completamente apaixonado e percebia a oportunidade que havia ali. Quando existe
um sonho que não sai da sua cabeça, não deixe nada te abater pelo caminho.
Luiz Alberto Garcia – 70 anos, presidente do Conselho da ALGAR
"O modo mais fácil de botar um
barco a pique é colocar dois c omandantes a bordo"
Esse foi um dos primeiros
conselhos que recebi na minha vida profissional -- e um que eu sigo até hoje.
Na época, meu pai era o presidente do grupo Algar e eu estava começando a
acompanhá-lo na condução dos negócios. Já dividia algumas decisões importantes
com ele e queria sempre impor a minha visão. Nós brigávamos muito nessa época.
Foi quando um professor da faculdade que eu cursava disse a frase acima. Tinha
tudo a ver com o momento que eu estava vivendo. Refleti e me dei conta de que o
comandante era o presidente, meu pai. Dali para a frente ficou claro que a
passagem de poder tem de ser uma corrida de bastão -- na qual quem o entrega e
quem o recebe correm juntos e cedem e tomam espaços de maneira gradual e
harmônica. Não dá para ter duas pessoas com as mesmas atribuições ao mesmo
tempo.
Marcio Utsch - 47 anos, diretor-presidente da São Paulo
Alpargatas "Procure problemas
grandes, não aceite resolver problemas pequenos"
Se tiver um problema pequeno na
sua mesa, ponha alguém para resolvê-lo. Tenho uma equipe de confiança para quem
posso entregar e dizer "este é seu, resolva". Estou aqui para criar
grandes soluções, duradouras, que mudem a trajetória do negócio. Isso não
significa que os pequenos problemas devam ser esquecidos e não resolvidos. É
preciso cobrar os responsáveis. O grande desafio para um chefe é decidir quando
tomar o problema para si e quando delegar sua solução. Erros de avaliação
acontecem. Nessas horas é preciso reconhecer a falha e mudar de rumo.
Sérgio Andrade - 60 anos, presidente da Andrade
Gutierrez "Um inimigo
conta por 1 milhão de amigos"
Talvez o mais importante no
mundo dos negócios seja a arte da boa convivência. E nesse caso só existe uma
fórmula: olho no olho, sinceridade e disposição para conversar e compreender o
ponto de vista do interlocutor. Costumo repetir um ditado russo que diz mais ou
menos o seguinte: "Um inimigo conta por 1 milhão de amigos".
Flávio Rocha - 48 anos, presidente da Riachuelo "Cuidado com as boas idéias"
Ter disciplina e manter a
direção do negócio significa saber dizer não a boas idéias. Idéias tentadoras
surgem o tempo todo e, se você não tomar cuidado, elas podem tirá-lo do rumo.
Acredito em grandes guinadas e em mudanças estruturais que se tornam
necessárias de tempos em tempos. Mas as pequenas tentações de mudança do
dia-a-dia podem ser um problema. Já experimentamos, por exemplo, vender
eletrônicos. No nosso caso, isso só desviou a atenção dos funcionários e
confundiu a percepção dos clientes em relação à marca.
Marcos Magalhães - 59 anos, presidente da Philips "Não 'ache' nada"
Um dos maiores equívocos que um
executivo pode cometer é tomar decisões de dentro para fora - sem pesquisar
mais sobre o caso em si e baseado apenas em "achismos". Os argumentos
que começam com "eu acho" são fatais (e o pior é que a experiência
acumulada normalmente te faz passar a achar mais e mais). Qualquer que seja a
sua estratégia, não se esqueça de que ela tem de ser feita de fora da empresa
para dentro.
Luiza Helena Trajano - 54 anos, superintendente do Magazine
Luiza "Pensar pobre não é
virtude"
Pensar pobre, pensar pequeno,
parece ser uma virtude no Brasil. As pessoas foram criadas para ter uma
mentalidade do tipo "eu não posso, eu não tenho tempo, eu não quero ouvir,
não é o momento". Nunca falo que não posso, não quero, não vou fazer.
Aprendi com minha mãe. Quando era criança, eu adorava dar presentes. Minha mãe
nunca dizia que não era possível. Ela simplesmente falava: "Quer dar?
Então vá lá, trabalhe e compre". Quando perguntam para minha tia, a
fundadora do Magazine Luiza, se ela está interessada em comprar mais uma rede
de lojas, sua resposta imediata nunca é não. Mesmo que saiba que o negócio
naquele momento não é possível, ela pede para marcar um almoço e discutir a
proposta. Não se paga nada para pensar. Então, para que pensar pequeno?
Michael Klein - 55 anos, presidente da Casas Bahia "Não se tranque no escritório"
Aprendi essa regra com meu pai a
partir da observação de como ele sempre agiu em casa ou no escritório. Principalmente
no nosso negócio, ser humilde é fundamental. Não existe o momento em que você
já sabe o bastante para ficar trancado no escritório. Estamos o tempo todo
aprendendo. Todos os funcionários da empresa -- dos vendedores aos diretores --
têm de se colocar na pele do cliente. Por isso mantenho uma rotina de visita às
lojas, escuto os vendedores e os clientes. A idéia da campanha "Quer pagar
quanto?" veio do discurso que os vendedores já usavam nas lojas. Ouvi numa
dessas andanças e achei excelente para
Carlos Miele - 42 anos, dono da M. Officer "Tenha seus próprios oráculos"
Sempre procuro ouvir o que
pessoas que considero geniais têm a dizer sobre o meu negócio. Quem não divide
o dia-a-dia comigo sempre vê as coisas de outra perspectiva. A idéia de abrir
lojas fora do país, por exemplo, surgiu três anos atrás, numa conversa com meu
oráculo e amigo João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, dono da Assolan. Ele
abriu meus olhos para uma possibilidade nova. Eu estava satisfeito e tranqüilo
com o resultado da marca no Brasil e mais a fim de pegar onda e velejar. A
expansão internacional deu fôlego a meu negócio e me revigorou como empresário.
Clovis Tramontina - 50 anos, presidente da Tramontina "As empresas de um homem só não
sobrevivem"
Se quer ter sucesso
profissional, cerque-se dos melhores. Não tenha medo de dividir o poder com
profissionais tão bons ou melhores do que você. E, principalmente, cuide para
que essas pessoas tenham perfis diferentes entre si. Essa é a única forma de
evoluir.
Roberto Barbosa - 55 anos, presidente do Grupo Nova América "Se a negociação for fácil demais,
desconfie"
Os melhores negócios que já fiz
na vida exigiram muito esforço para chegar a um acordo. Os que tiveram um
desfecho rápido sempre se provaram complicados mais tarde. A ansiedade é o pior
veneno numa negociação. Não se pode demonstrá-la, ainda que o que esteja na
mesa seja o negócio de sua vida. Um dos maiores testes pelos quais passei foi a
compra da marca União, da Copersucar. A aquisição dobraria o faturamento da
minha empresa. Levamos oito meses para bater o martelo.
Victor Siaulys - 69 anos, presidente do Conselho do Aché "Cuide bem do filho do seu
funcionário"
Pode parecer um conselho
periférico, mas quando cuidamos bem dos filhos dos nossos funcionários criamos
uma relação de confiança, amizade e de envolvimento com os comandados. Quebramos
todas as resistências que podem surgir das relações conflituosas entre empregado
e empregador. Faz bem à saúde do próprio negócio. Isso pode evitar casos como
os escândalos ocorridos anos atrás em empresas americanas, quando funcionários
acrescentaram substâncias venenosas a alguns produtos. Funcionários devem ser
aliados, e não inimigos.
Manoel Amorim - 47 anos, diretor da Telefônica Internacional "Para saber a causa real de um
problema, pergunte três vezes por quê"
Quando alguém relata um problema
e você pergunta por que ele aconteceu, a primeira resposta nunca é a causa real.
Em geral, as pessoas dizem algo genérico ou dão uma desculpa, em vez de uma
explicação. Por isso, sempre repito a pergunta três vezes. Ao final desse
processo, ou chego à real causa do problema ou percebo que a pessoa que o
apresentou não tem idéia sobre o que está falando.
Manoel Horácio - 60 anos, presidente do Banco Fator "Aplique o método kiss"
A confusão e a complexidade
paralisam. O melhor antídoto contra isso é o método kiss. É a sigla em inglês
para: keep it simple, stupid! Ou: descomplique. Recebi esse conselho aos 20 e
poucos anos, num estágio nos Estados Unidos. Desde então o repito sempre que
preciso. É bom porque todo mundo ri e entende logo a mensagem.
Alberto Saraiva - 53 anos, presidente e fundador do Habib's "Qualquer negócio pode ser reinventado,
mesmo o mais simples"
Aprendi isso quando tive de
assumir a padaria criada por meu pai, morto num assalto. Eu era o primogênito e
a família só tinha a padaria para se sustentar. Aprendi a fazer pão e virei
padeiro. Identifiquei a melhor farinha para fazer o melhor pão da região.
Aprendi a vender barato. Na época, o preço do pão era tabelado, mas eu o vendia
com desconto de 30%. Fiz uma promoção em que o cliente, se comprasse dez pães,
levava 12. Substituí os funcionários ruins. A padaria, que era a pior da área,
virou a melhor. Os clientes faziam fila na porta. Percebi que mesmo em mercados
aparentemente simples é possível se destacar dos concorrentes. Até hoje sigo
essa fórmula.
Cledorvino Belini - 56 anos, presidente da Fiat "Faça suas próprias pesquisas de
mercado"
Quando ainda presidia a Cofap,
fizemos uma campanha com um cachorrinho que ficou famosa. Um dia, durante um
vôo, distribuíram para os passageiros um folheto da campanha. Sem me
identificar, perguntei ao sujeito na poltrona vizinha o que ele tinha achado do
material. Apesar de termos feito uma pesquisa exaustiva, ele falou coisas que
eu nem tinha imaginado. Desde então, procuro conversar com potenciais
consumidores. Passageiros que se sentam a meu lado em aviões e motoristas de
táxi são meus alvos favoritos.
Marco Antonio Bologna - 50 anos,
presidente da TAM "Não seja
apenas um técnico"
Num dos meus primeiros dias
trabalhando com o comandante Rolim, fundador da TAM, ele me pegou no corredor
(como costumava fazer com todo mundo) e me disse que um administrador tem de
ser um líder, e não apenas um técnico. A grande diferença entre um e outro é
que o primeiro lida com pessoas, enquanto o segundo lida com coisas. Ao lidar
com pessoas, você tem de transmitir valores, metas e entusiasmo. E ouvir,
claro. Às vezes, ouve-se até o que não quer. Eu acabara de assumir a vice-presidência
de finanças e administração. Desde então, a regra do comandante virou a minha
regra.
Bernardo Hees - 36 anos,
presidente da ALL "Ao assumir
um novo cargo, esqueça as decisões estratégicas e aposte no bom senso"
Quantas vezes vemos grandes
reestruturações logo após a mudança de comando de uma empresa? Ao assumir um
novo cargo é melhor tomar apenas decisões de bom senso, em vez de fazer
revoluções. Antes disso, é preciso conhecer a lógica do negócio e a do mercado
em que está inserido. Quando assumi a ALL, havia uma operação ineficiente.
Antes de interrompê-la, percebi que simplesmente havia falhas nas previsões dos
horários de chegada dos trens. Bastou mudar isso para acertar todo o resto.
Hoje, essa é uma das minhas operações mais rentáveis.